domingo, 24 de julho de 2011

A taça é para quem torce

Daniela Penha - Estádio Monumental (Buenos Aires)

Uma final se faz saber e valer pela movimentação nos portões do estádio. Os torcedores vestem suas camisas, agarram suas bandeiras, pintam a cara e saem em luta pela pátria que - pelo menos durante as 24 horas que antecedem "el grand finale", os 90 minutos do esperado embate e as 24 horas posteriores - se resume a um grupo de 11 homens e sua meta de honrar a camisa nacional fazendo a bola chegar dentro das traves: uma, duas, quantas vezes a habilidade de jogador permitir. É o fim e, como todo fim, representa a soma de esforços e a etapa mais próxima da taça.

Uma batalha pacífica: apenas para um dos dois combatentes as 24 horas posteriores serão de euforia absoluta. Ainda assim, pelo menos durante as 24 horas que antecedem a partida, os torcedores comemoram e fazem questao de mostrar ao mundo o quanto estao orgulhosos. Os dois lados, nesse momento de pré, se consideram campeões. Talvez, no fim do jogo, quando nao haja mais parcimônia e a necessidade de dar o título a uma das partes se faça constante (porque todo jogo deve ter um ganhador) algumas lágrimas caiam. Porém, diferente das lágrimas dos times desclassificados antes de chegarem às quartas, essas não são de decepção. Representam a vontade reprimida de chegar ao topo. Porém, em momento algum, tiram dessa tal pátria o mérito te ter chegado aqui. Tão perto.

Nos portões do estádio Monumental do River Plate é isso que se vê e se sente por agora. Uma multidão de paraguaios e uruguaios gritam para quem quiser ouvir: Estamos na final! Tem gente paraguaia que viajou 20 horas de ônibus para acompanhar o time. Tem gente uruguaia que veio de ferry-boat aproveitando a - boa, nesse caso - proximidade geográfica. Tem quem já vive na Argentina há muito tempo. Tem quem se mudou por agora. Tem aqueles que estao desde o comeco da Copa - e para eles é ainda mais extasiante ver que o percurso foi exatamente o esperado. Tem quem veio para a semi e ficou.Tem gente de outros países que, na ausência de um time seu, pegou um pouquinho do outro emprestado e também vestiu a camisa. Tem de tudo um pouco. E em tudo se vê animação e muita vontade de torcer.

Os uruguais se caracterizam pelo "soy celeste" que invade e toma conta dos espaços onde chegam. Basta que um comece a cantar para que todos os outros entrem no canto e, de repente, um coral está pulando, batucando e afirmando, sem cansar, que são da cor do céu. E nesse cântico entram todos. Crianças de todas as idades cantam, cada uma com a suas possibilidades, o hino da torcida uruguaia. Aqueles que de tão pequenos nao sabem cantar, dançam e pulam, para sentirem-se também parte da torcida.

Na torcida paraguaia, os cantos se misturam aos gritos de guerra, aos chapéus de todas as cores e formas e aos muitos rostos pintados. Novamente, todo mundo entra na tinta. Chicos e grandes. Nenas e ninos. A idéia e uniformizar a torcida em uma só voz e apenas três cores: azul (nada celeste), vermelho e branco.

O mais bonito de se ver, no entanto, são os momentos em que os uruguaios e paraguaios se juntam. Se  misturam e, em pequenos gestos, dizem ao outro que a rivalidade é coisa dos gramados e "no mas". Vimos paraguaios pedindo fotos com uruguaios e vice-versa. Vimos um uruguaio chiquito segurando uma bexiga vermelha sem se preocupar com o amanhã. "Eu não ligo não. Minha bexiga é bonita".

(Foto: Cristiano Pavini)

(Foto: Daniela Penha)

Foto: Daniela Penha

Foto: Daniela Penha

Foto: Cristiano Pavini

Foto: Daniela Penha



Foto: Cristiano Pavini


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