domingo, 17 de julho de 2011

No aniversário do Maracanazo, Uruguai elimina Argentina

Cristiano Pavini - Buenos Aires

Um constrangedor silêncio pairou sobre a praça San Martín após a última cobrança de pênalti da seleção Uruguai.  Os mais de dois mil torcedores ali presentes olhavam atônicos o telão gigante instalado para os jogos da competição, que exibia o fim da esperança argentina de quebrar um jejum de 18 anos e levantar em casa a taça da Copa América.

Algumas horas antes havia o barulho de uma torcida contagiante. Milhares de torcedores chegavam de todas as partes da cidade para apoiar, mesmo que a quase 500 Km de distância do Estádio Colón em Santa Fé, a seleção argentina em seus mais severo desafio da competição.

Telão gigante instalado no centro da Plaza San Martin (Foto: Cristiano Pavini)
Não havia barreira social que separasse os gritos de incentivo. Moradores de rua, casais de jovens, trabalhadores recém saídos da jornada, senhores e senhoras formavam uma organizada massa de aplausos, cujo objetivo único era empurrar a Argentina para a semi-final.

Tudo parecia encaminhar para esse destino ao fim do primeiro tempo. A tela gigante exibia o definitivo reencontro de Messi com seu mágico futebol, em conjunto com uma seleção que finalmente demonstrava toda sua força. Eram contados os minutos para que o Uruguai, com um jogador a menos, não agüentasse mais a pressão e levasse o gol da virada.

Não havia diferença entre os presentes: todos eram torcedores argentinos (Foto: Cristiano Pavini)
Apenas duas coisas pareciam incomodar os torcedores na praça. Uma delas – e mais incômoda, na minha opinião - eram os comentários de Freddy Rincón durante a partida. O ex-corinthiano é um dos comentaristas oficiais da transmissão do Youtube (pela qual estava conectada a telona), e realizava alguns apartes realmente indigestos.

O outro motivo de incômodo era uma torcedora do Uruguai, que insistia em ostentar orgulhosa a bandeira de seu país – mesmo sob olhares fulminantes de raiva dos argentinos mais fanáticos.

Auto intitulada “Ana do Uruguai”, ela afirmou não ter medo de sofrer agressões caso seu país vença. “Vivo na Argentina há trinta anos, essa é minha segunda casa”, ressaltando em seguida que mesmo assim é uruguaia até a morte. Provocativa por natureza, assim que soube que a equipe da Rádio Unesp Virtual era brasileira, relembrou os 61 anos do Maracanazo (para quem não sabe, a maior tragédia da história do seleção canarinho).

"Ana do Uruguai" se arriscou com sua bandeira (Foto: Cristiano Pavini)
Perguntamos pelo seu jogador uruguaio predileto: a habilidade de Forlán ou a garra de Lugano? Nenhum dos dois. O escolhido foi o atacante Luis Suárez (que ficou mundialmente conhecido ao salvar, com as mãos, um gol de Gana no último minuto das quartas-de-final da Copa do Mundo do ano passado). “Ele é o símbolo da raça e força de vontade de nosso país”, garantiu.

Tamanha força ficou evidente no segundo tempo de jogo. O Uruguai conseguiu resistir às investidas da seleção argentina e manteve o empate por mais 75 minutos (45 do tempo normal, acrescidos dos 30 da prorrogação).  Na disputa dos pênaltis, brilhou a estrela do goleiro Fernando Muslera, que agarrou a cobrança de Carlitos Tevez e pôs fim ao sonho argentino.

O silêncio que pairou sobre a praça San Martín somente foi quebrado pelo som de uma garrafa se chocando contra a parede e muitos gritos. Um torcedor argentino, irritado com a derrota, atacou Ana e os outros pouquíssimos uruguaios – menos de dez – presentes no local. Iniciou-se um empurra-empurra, e a equipe da Rádio Unesp Virtual foi obrigada a sair do lugar. A raiva, entretanto, não contagiou a grande maioria dos torcedores argentinos: a decepção que prevalecia era um sentimento que não seria substituído por nenhum outro tão cedo.

Abaixo, vídeo realizado no momento da eliminação argentina. Os torcedores uruguaios exibidos comemorando seriam atacados poucos segundos depois

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