Daniela Penha - Córdoba
“Los cordobeses son los argentinos más alegres”. Isso é o que mais se diz sobre “la gente” de Córdoba nas outras províncias da Argentina. Em quatro meses por aqui, recorrendo as principais províncias do país (Buenos Aires, Rosário, Santa Fé, Mendoza, Entre Rios e Córdoba) percebemos que a crença popular, de fato, tem sua veracidade.
A primeira vez que viemos à segunda maior cidade do país – esqueçamos aqui a disputa que travam Córdoba e Rosário por esse pódio – era fim de março e chovia. Uma chuva fina e silenciosa. Nada de trovões ou enchentes. E nada de ruas vazias. Pelas ruas do calçadão as pessoas caminhavam normalmente, levando guarda-chuvas de cores tão fortes que parecia até um espetáculo proposital para que não tivéssemos outra saída a não ser nos enamorarmos a primeira vista. Técnica infalível: Nos apaixonamos tão de imediato que depois ficou fácil encontrar a beleza de cada pedacinho da cidade.
Foram seis dias de recorrido turístico. A Mansão Jesuítica, considerada patrimônio histórico pela Unesco, a Catedral Central, o Museu da Memória, que reconta e protesta contra os horrores da ditadura, a Universidade Nacional de Córdoba, berço de toda a reforma educacional argentina e da explosão dos movimentos culturais nacionais, uma infinidade de praças, oásis verdes e tranqüilos em meio a cidade urbana, o gigantesco Parque Sarmiento e as encantadoras cidades de serra ao redor: Carlos Paz, Alta Gracia (onde está a casa de Che Guevara), Capilla Del Monte, Cosquim. Além de, mais ou menos, 500 fotos cada um, saímos daqui com uma infinidade de boas histórias pra contar e com uma vontade grande de voltar uma, duas, três, muitas vezes mais.
A segunda dessas vezes esperadas chegou com a Copa América. Córdoba é uma das cidades sedes da competição. No estádio recém reformado Mario Kempes, nessa primeira fase, o Brasil faz dois jogos e a Argentina um. Chegamos para o primeiro, que foi nesse sábado, dia 9 contra o Paraguai, e no qual o Brasil não teve muita sorte, e ficaremos até o segundo que é nessa quarta, dia 13, entre Brasil e Equador. A cidade está atônita. Os taxistas, entre tantas histórias que contam, afirmam que o movimento é excepcional. Nas principais praças da cidade grandes telões foram instalados. Os hotéis e hostels estão cheios e com preços inflacionados (alguns aumentaram seus preços em até 50%). Os restaurante e bares sempre lotados. E pelas ruas, vendedores ambulantes oferecem todos os tipos de bandeiras e buzinas possíveis, com preços que variam de 15 a 60 pesos (de 7 a 30 reais).
Mais uma vez, nos sentimos dentro de um grande espetáculo que, por momentos parece um pouco sem sincronia – o romantismo da cidade parece não combinar muito com a agitação da Copa – mas que, quando olhamos com mais atenção, fica belo. Muito belo. O povo cordobês tem mostrado toda sua alegria peculiar, tanto na forma como cuida de seus turistas, quanto na sua participação animada nos estádios e vibração nos jogos.
No jogo de sábado (Brasil contra Paraguai) a cidade mostrou diferentes tipos de torcida: Um casal cordobes vestido meio Brasil meio argentina. Uma família de paraguaios que de tantos anos em Córdoba já viraram cidadãos. Cordobeses vestidos de verde e amarelo e confessos torcedores do Brasil. Outros vestidos de azul e branco e confessos torcedores de toda equipe que joga contra a nossa. Uma infinidade de turistas apaixonados pela cidade. Partes e mais partes do espetáculo.
Hoje, a algumas horas de Argentina e Costa Rica, a cidade já começou a se movimentar. A partir das cinco, tudo indica que as praças já começarão a lotar e todos os bares se preparam para o momento do jogo. Nossa expectativa é tão grande quanto à deles, porém distinta. Enquanto eles esperam para ver a argentina em campo, no jogo que se denomina popularmente “vida o muerte”, nós esperamos para vê-los na torcida. A ansiedade é grande e aparente. O resultado de hoje pode representar a desclassificação do time “hermano”. Alguns apostam na vitória, mantendo o otimismo. Outros, já se deixaram tomar pelo desapontamento: “Con ese futbol, la Argentina no gana”.
De toda forma, será uma grande partida. Para nós, a primeira vez que veremos a Argentina jogar em casa e o povo argentino torcer “en las calles”, nos estádios, nas casas. Nossa rivalidade argentina está começando a perder espaço para a vontade de ver o povo cordobes mostrar sua alegria de torcedor e sair vitorioso.
Calçadão de Córdoba em dia chuvoso (Foto: Daniela Penha) |
Casa de Che Guevara na cidade de Alta Gracia (Foto: Daniela Penha) |
Catedral Central da cidade de Córdoba (Foto: Cristiano Pavini) |
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